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  • Join Date: April 10, 2017
Our Blues korean drama review
Completed
Our Blues
0 people found this review helpful
by Jhonny_Santos
1 day ago
20 of 20 episodes seen
Completed
Overall 7.5
Story 7.0
Acting/Cast 8.0
Music 8.0
Rewatch Value 6.0
This review may contain spoilers

Uma obra sobre a vida como ela é: imperfeita

A vida em seu estado natural é imperfeita, contraditória, bonita e dolorosa ao mesmo tempo. Há felicidade, tristeza, ciúmes, traumas, abandono, mentiras e reconciliação. Cada personagem carrega seu próprio mundo interior, e a ilha funciona como um espaço onde esses universos se cruzam, colidem e se revelam.

Por ser estruturado em vários arcos interligados, é inevitável que nem todas as histórias tenham o mesmo peso emocional, impacto dramático ou profundidade narrativa. Isso afeta a experiência final, mas apesar da irregularidade a maioria dos arcos apresenta boa escrita e trabalha emoções humanas com sinceridade.

O primeiro arco, centrado em Bang Ho-Sik e Jung Eun-Hee, é facilmente o ponto mais irritante e desgastante do dorama. Os personagens são deploráveis, principalmente o Ho-Sik, as motivações são rasas e, mesmo com tentativas em dar um corpo pelo passado dos personagens, tudo soa artificial e emocionalmente pobre. Definitivamente, foi o arco que quase me fez desistir do dorama e representa seu lado mais frágil. Em contrapartida, surge com folga a melhor história: Jung In-Kwon, Bang Ho-Sik, Jung Hyun e Bang Yeong-Ju. O dorama aborda gravidez na juventude, tentativa de aborto, choque familiar, ruptura emocional e reconciliação. É um arco forte, humano, doloroso e extremamente verdadeiro. Dois pais falhos, rígidos e orgulhosos, marcados por um passado trágico; dois jovens esmagados pela responsabilidade precoce, pelo medo, vergonha e pressão social. Dessa mistura nasce um processo de amadurecimento e reconciliação que é, de longe, o ponto mais alto do dorama, apesar dos desfecho não está a altura do todo.

Nos arcos seguintes, o eixo central é a honestidade. Homens emocionalmente íntegros se relacionam com mulheres cujo passado pesa, mas que, ao menos, têm a dignidade de serem sinceras sobre quem são e sobre o que viveram. Essa franqueza é essencial: ela dá aos homens a liberdade real de escolher se desejam ou não permanecer nesses relacionamentos. O drama trabalha, assim, a ideia de escolha consciente. (Falta muito disso nas mulheres atualmente e isso é de extrema importância para um homem tomar a decisão se quer permanecer ou não com essa mulher)

O capitão Park Jung-Joon é um homem reservado, íntegro e prestativo. Já Lee Young-Ok surge como uma mulher radiante, mas cercada por má fama e instabilidade emocional. Só depois entendemos a raiz disso: a responsabilidade de cuidar da irmã gêmea com síndrome de Down após perder os pais cedo demais. Rejeição, preconceito e cansaço a transformaram em alguém que viveu em fuga, mudando de cidade, trabalhando sem parar e evitando criar laços profundos. O arco é sensível e humano e com um ótimo desfecho.

Já Lee Dong-Seok e Min Seon-Ah protagonizam um dos núcleos mais pesados emocionalmente. Aqui, o drama trata de depressão, trauma, divórcio com disputa de guarda, culpa e ressentimento. São duas pessoas quebradas, tentando sobreviver a uma dor que não desaparece. O passado não é suavizado. Eles foram, um dia, à luz um do outro, sobretudo para Dong-Seok, que tinha apenas Seon-Ah, mas, ainda jovens e imaturos, ela rompe esse vínculo de uma forma severa (depois descobrimos que o ato não aconteceu, mas não por arrependimento dela e sim do amigo do Dong-Seok).. Essa ferida aberta é um dos motivos pelos quais ele nunca mais conseguiu se envolver seriamente com outras mulheres.

Entre esses arcos, surge uma história mais curta envolvendo Eun-Hee e Go Mi-Ran. A relação entre elas parece, muitas vezes, uma dinâmica de senhor e servo, marcada por desequilíbrio emocional, orgulho e ressentimentos antigos. É um arco interessante e com bons conflitos, mas que não alcança o impacto dos melhores momentos do dorama. Outro arco pequeno é a história da haenyeo veterana Hyun Choon-Hee e sua neta Son Eun-Ki. Após o acidente do pai, a menina passa a viver com a avó, e a relação entre as duas é construída lentamente, entre dureza e afeto. O desfecho desse arco está entre os melhores do dorama. A mãe de Eun-Ki, Oh Hae-Seon, também merece destaque por ser, em muitos sentidos, a Mulher entre as mulheres.

Por fim, o arco entre Lee Dong-Seok e sua mãe Kang Ok-Dong é menos sobre reconciliação e mais sobre dever. Uma mãe que nunca demonstrou acolhimento e amor pelo filho. Nunca demonstrou arrependimento pelas escolhas que fez e que só trouxeram sofrimento ao mesmo. Um filho que nunca recebeu amor precisa, ainda assim, cumprir o papel que lhe resta. A história é sobre despedida, aceitação amarga e uma paz que não chega por afeto, mas por encerramento.

Alguns pontos, porém, poderiam ter sido melhor desenvolvidos, como a relação entre Park Ki-Joon e Byeol-I, que tinha potencial e despertou meu interesse. Mas no geral, o saúdo é positivo. Our Blues constrói relações interessantes e trabalha múltiplos temas com sinceridade. A trilha sonora cumpre bem seu papel. A fotografia e as paisagens estão entre os grandes destaques. As atuações, no geral, são boas, embora em alguns momentos pareçam artificiais. E certos desfechos poderiam ter sido finalizados com mais consistência, ficaram muito aquém, mas a vida é assim mesmo, os nossos desfechos simplesmente terminam sem a gente nem nota que era um encerramento.

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