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20th Century Girl korean drama review
Completed
20th Century Girl
0 people found this review helpful
by pedrinhoomota_
1 day ago
Completed
Overall 9.0
Story 9.0
Acting/Cast 8.5
Music 8.0
Rewatch Value 9.5
Poucos filmes coreanos recentes traduziram tão bem a intensidade da adolescência quanto Garota do Século XX, dirigido por Bang Woo-ri. Ambientado em 1999, o longa mergulha em uma época de transição, quando a tecnologia começava a transformar relações, mas os sentimentos ainda eram experimentados de maneira pura, quase ingênua. A protagonista, Na Bo-ra, embarca na missão de vigiar o garoto por quem sua melhor amiga está apaixonada, mas acaba se confundindo entre observadora e participante, sendo ela mesma capturada pela primeira experiência do amor juvenil.

O filme funciona como uma cápsula do tempo. As referências aos anos 90 — desde fitas de vídeo até e-mails enviados de lan houses — não são apenas elementos nostálgicos, mas reforçam o contraste entre a lentidão do passado e a velocidade emocional com que os jovens viviam cada descoberta. Bang Woo-ri não retrata a adolescência como uma fase superficial, mas como um período de intensidade avassaladora, onde cada gesto tem o peso de um mundo e cada silêncio pode doer como uma ruptura definitiva.

Um dos maiores trunfos de Garota do Século XX é a forma como lida com a amizade entre Bo-ra e Yeon-du. A relação das duas não é um detalhe secundário, mas a base de toda a narrativa. O pacto de confiança que elas firmam — de que Bo-ra observará Hyun-jin para ajudar a amiga — acaba se tornando um dilema ético e emocional quando Bo-ra se vê apaixonada. Essa dualidade mostra que a adolescência não é apenas sobre o “primeiro amor”, mas também sobre a descoberta do valor e da fragilidade das amizades, onde o coração pode ser dividido entre lealdade e desejo.

Há também um aspecto inevitavelmente trágico na forma como o amor de Bo-ra é construído. O destino lhe oferece um romance intenso, mas breve, que se encerra antes de amadurecer, deixando apenas memórias cristalizadas no tempo. A grande reviravolta do filme — revelada anos depois — não é apenas um recurso dramático, mas um lembrete cruel de como o passado permanece vivo dentro de nós, mesmo quando acreditamos tê-lo superado. Esse choque final transforma o longa de uma simples história romântica em uma reflexão sobre perda, memória e as marcas indeléveis da juventude.

Do ponto de vista simbólico, a obra também fala sobre o papel da memória como “parasita” do presente. Bo-ra cresce, segue em frente, mas quando reencontra os rastros de Hyun-jin, percebe que o amor adolescente nunca desapareceu de fato, apenas ficou adormecido. O uso do diário, das cartas e dos objetos guardados como relíquias mostra como aquilo que vivemos uma única vez pode nos acompanhar para sempre. O filme sugere que o primeiro amor não é importante pelo tempo que dura, mas pela intensidade com que molda quem nos tornamos.

No fim, Garota do Século XX não é apenas um romance juvenil, mas um retrato universal da passagem do tempo e do poder das lembranças. É um filme que nos convida a revisitar nossa própria juventude — com suas alegrias ingênuas e suas dores devastadoras — e a refletir sobre como essas experiências, mesmo passageiras, continuam definindo quem somos. Assistir a esse filme é como abrir uma caixa antiga e encontrar cartas que nunca foram enviadas: dói, mas também aquece, porque nos lembra que viver é, acima de tudo, sentir intensamente
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